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Foto do escritorCain Mireen

Familiares das Bruxas




Os familiares das bruxas podem ser de três tipos. O primeiro tipo é um ser humano desencarnado ou, em outras palavras, o espírito de uma pessoa falecida. O segundo tipo é um espírito não-humano, um elemental. O terceiro tipo é uma criatura verdadeiramente material, um pequeno animal como um gato ou um furão, ou um réptil, como, por exemplo, um sapo. Os familiares do segundo tipo, os elementais, às vezes habitam em um objeto em particular; esses espíritos serventes são atribuídos a magos cerimoniais no passado, assim como às bruxas. Diziam que o famoso ocultista Paracelso, por exemplo, possuía um familiar que morava em uma enorme pedra preciosa, provavelmente um cristal, que estava colocada no pomo de sua espada. Em livros antigos de magia é possível encontrarmos rituais para atrair espíritos e forçá-los a se instalarem em um cristal ou em um espelho mágico, com o intuito de servir a um mago. Pela ação desse espírito, as visões eram transmitidas pelo cristal ou pelo espelho. A ideia de um espírito guardado em um objeto, geralmente uma estátua, é também encontrada entre os magos de raças primitivas. Antropólogos chamaram a essas estátuas de “fetiche”. Entre as bruxas na Grã-Bretanha, o tipo de familiar mais comumente encontrado é o terceiro, isto é, uma pequena criatura viva de um determinado tipo, mantida como um animal de estimação. Caçadores de bruxas geralmente insistiam em descrever esses familiares como “demônios” e alegavam que a bruxa os alimentava com seu próprio sangue. Há um pouco de verdade nessa última alegação, embora como sempre ela também tenha sido mal-interpretada. A imaginação dos caçadores de bruxas é constantemente muito mais asquerosa do que a das bruxas.


O que de fato acontecia era que a bruxa ou bruxo dava à criatura de tempos em tempos um pouco de seu próprio sangue, ou quando a mulher era uma bruxa e também uma ama-de-leite, um pouco de seu próprio leite. O objetivo disso era estabelecer uma ligação psíquica entre a bruxa e o familiar e dar continuidade a essa ligação. Do contrário, o familiar era alimentado com qualquer tipo de alimento que fosse normal à sua espécie. Muitos animais têm percepções psíquicas agudas e, ao observarmos os seus comportamentos, a presença de visitantes invisíveis, amigáveis ou não, pode ser notada. A total recusa de cachorros de entrar em um lugar que seja a cena de um lugar naturalmente assombrado [que tradução medonha!] é um fato constantemente atestado pela experiência. Gatos, ao contrário, parecem se divertir com a companhia de fantasmas. O sapo é uma criatura impressionantemente inteligente e fácil de ser adestrada. O natterjack, ou sapo que anda, era o tipo especialmente preferido para servir como familiar de bruxas, mas todos os sapos são ótimos animais de estimação, se forem mantidos em condições apropriadas. Eles Têm que ter água sempre ao seu alcance, porque eles respiram em parte através de sua ple, e se eles ficarem secos demais, podem morrer. Eles se alimentam de insetos, portanto, o jardim de uma cabana era uma moradia excelente para eles e alguns jardineiros dos tempos passados criavam sapos simplesmente para esse fim, para consumir os insetos que ameaçavam as plantas. O sapo é também geralmente inofensivo. Ele não pode morder, porque não tem dentes; a velha história de que ele espirra veneno é uma calúnia. O que na verdade acontece é que o sapo, quando está assustado ou agitado, exsuda veneno por sua pele, por meio de certas glandes na região de seu pescoço. Se você não assustá-lo ou machucá-lo, ele irá permanecer inofensivo; ele tem olhos maravilhosos, parecidos com pedras preciosas que brilham como jóias entre as criaturas do reino dos répteis. (Como o leitor já deve ter notado, a escritora GOSTA de sapos.)


Essa substância exsudada pela pele do sapo tem uma aparência leitosa e, conseqüentemente, ela ganhou o nome de leite de sapos. As bruxas que mantinham sapos como animais de estimação tinham certas maneiras de coletar o leite dos sapos sem machucar ou perturbá-los_ um bom familiar era valioso demais para ser ferido. O leite dos sapos era usado em algumas das preparações secretas das bruxas; e os cientistas modernos descobriram que ele contém uma substância a que eles chamaram BUFOTENINA, que é uma droga alucinógena. Ele é também um veneno extremamente mortal, quando usado da maneira errada. A escritora, portanto, não acha ser de interesse público não desvendar muitos detalhes sobre esse assunto [tradução medonha]. A atual atitude irresponsável com relação a alucinógenos, infelizmente mostrada por muitas pessoas hoje, impede-me de fazê-lo. Isso, no entanto, foi uma das razões para a popularidade do sapo como um familiar das bruxas. O outro motivo é que os sapos, como os gatos, são criaturas, bastante psíquicas, e reagem a influências fantasmagóricas. O familiar animal era usado nas adivinhações. O método era colocar diante dele, dentro de um círculo mágico, uma série de objetos que representavam diferentes significados divinatórios, e esperar para ver qual deles o animal escolhia. As pedras pintadas mencionadas na introdução sobre adivinhação podem ser de grande utilidade para isso; ou brotos de diferentes ervas ou pequenos galhos de árvores podem ser usados. Antes de se iniciar a adivinhação, a bruxa tinha que formar o círculo mágico e invocar os Deuses para que enviassem um espírito para possuir o familiar e inspirá-lo a dar a resposta certa. Uma outra maneira na qual o familiar era usado acontecia quando se desejava enviar uma influência mágica para outra pessoa, algo bom ou ruim. Um exemplo disso faz parte da confissão de Margaret e Phillipa Flower, que foram enforcadas por bruxaria em Lincoln, em 1619. Essas duas irmãs tinham sido empregadas no Castelo Belvoir pelo Conde e pela Condessa de Rutland. Por alguma razão, uma delas, Margaret, foi dispensada. Sentindo que ela tinha sido tratada de forma injusta, ela pediu a sua mãe, Joan Flower, que se vingasse deles. Joan Flower já tinha a reputação de ser uma bruxa, e ela tinha um familiar, um gato chamado Rutterkin.


Brown, meu Familiar faleceu no ano de 2017 mas seu espirito ainda vive ao meu lado.

Margaret Flower conseguiu roubar uma luva que pertencia ao Senhor Rosse, o herdeiro do Conde e da Condessa; sua luva foi usada para estabelecer a ligação mágica do ritual de vingança. A bruxa mãe, Joan Flower, esfregou a luva em seu gato Rutterkin, e ela deve ter pronunciado uma maldição sobre o Senhor Rosse enquanto passava a luva no gato. Em seguida a luva foi colocada em água fervente – certamente o caldeirão já estava borbulhando em algum lugar próximo dali. A luva foi retirada, espetada com alfinetes ou com a faca mágica, e finalmente queimada. O Senhor Rosse adoeceu e por fim morreu. A família Flower continuou a praticar a bruxaria contra a família do Conde e da Condessa até que boatos se espalharam pelo local, e elas foram presas e levadas para Lincoln para serem examinadas. A mãe, Joan Flower, caiu e morreu enquanto estava sendo levada para a Prisão de Lincoln; depois disso as duas irmãs confessaram e foram enforcadas. O que aconteceu com o gato não foi registrado; mas esse é um caso interessante como um dos raros exemplos dos quais temos detalhes de como os familiares eram realmente usados. O gato evidentemente agia como um tipo de médium para os poderes da bruxaria. As bruxas adquiriam familiares bem-treinados umas das outras. Eles podiam ser ganhos na iniciação, passados ou herdados por membros de uma família, ou deixados como um legado em testamentos. O familiar ganhava um nome e muitos cuidados. Às vezes os nomes eram curiosos e estranhos. Alguns nomes registrados de familiares de bruxas na Grã-Bretanha são Grande Tom Twit e Pequeno Tom Twit (esses eram dois sapos); Bunne; Pyewacket; Elimanzer; Newes (um bom nome para um familiar de adivinhação); Elva (que também era o nome da deusa celta, cunhada do deus do Sol Lugh); Prickeare; Vinegar Tom; Sack e Sugar; Tyffin; Tissey; Pygine; Jarmara; Liard (uma palavra que significa “cinza”); Lightfoot; Littleman; Makeshift; Collyn; Fancie; Sathan; Grissel e Greedgut. Do continente vieram nomes como Verdelet, Minette, Carabin, Volan, Piquemouche e assim por diante. Cornelius Agrippa, um famoso escritor da filosofia oculta e da magia, supostamente mantinha um familiar na forma de um pequeno cachorro preto chamado Monsieur.


Um informação curiosa sobre a crança na eficiência dos familiares animais é o fato de que, durante a Guerra Civil na Inglaterra, os partidários de Cromwell muito seriamente acusaram o monarquista Príncipe Rupert de ter um familiar. Aparentemente o Príncipe tinha um pequeno cachorro branco chamado Boye, e as acusações dos Puritanos foram ridicularizadas em folhetos monarquistas contemporâneos, que fizeram crescer a história original que sugeria que Boye fosse na verdade uma linda bruxa de Lapland, que tinha se transformado num cachorro para fazer companhia ao galante Cavaleiro. Mas, para os Puritanos, a bruxaria não era assunto para brincadeiras. Foi durante a Guerra Civil que o famoso General Caçador de Bruxas, Matthew Hopkins, teve seu reinado de terror em East Anglia. Muitas pessoas idosas foram ameaçadas e torturadas a “confessarem”, e por fim enforcadas, por nenhum outro crime a não ser o de manter um animal de estimação ou pássaro que seus perseguidores tinham decidido se tratar de um familiar. [É, a Doreen pisou na bola falando que são répteis. Bom, isso acontece nas melhores famílias…]. Nos dias de hoje, há algumas extremas congregações protestantes que proíbem seus membros de manterem animais de estimação. Essa pode ser uma sobrevivência reconhecida do antigo temor da bruxaria e do familiar.


A palavra “familiar” vem do latim FAMULUS, que significa um acompanhante. A história mais detalhada das Ilhas Britânicas sobre esse companheiro na forma de um espírito humano é o da bruxa escocesa Bessie Dunlop de Ayrshire, que foi condenada e executada em 1576. Seu familiar era o espírito de um homem chamado Thome Reid, que tinha sido morto na Batalha de Pinckie em 1547. Ela descreveu sua aparência como a de “um respeitável senhor idoso, de barba grisalha, e que usava um casaco cinza, com mangas lombardas, de joelhos, um chapéu preto em sua cabaça, fechado atrás e liso na frente, com laços de seda, e uma batuta branca em sua mão, completavam a descrição do que podemos supor ser um homem de aparência respeitável da província.” Portanto, diz Sir Walter Scott, que em suas Cartas sobre a Demonologia e a Bruxaria revela-nos grandes particularidades sobre esse caso, Thome Reid era obviamente um mero fruto da imaginação em forma de fantasma. Além do mais, ele nos dá provas de sua identidade:

“Quando pressionada em particular sobre o assunto de seu familiar, ela disse que nunca o tinha conhecido enquanto esteve no mundo dos vivos, mas estava ciente de que essa pessoa com quem conversava era alguém que durante a sua vida na verdade tinha sido conhecido no meio terreno como Thome Reid, oficial da propritário de terras de Blair, e que tinha morrido em Pinkie. Ela disse ter certeza disso porque ele pediu que ela procurasse seu filho, e que tinha tomado o seu lugar como oficial, e também com outros de seus parentes, que ele forneceu os nomes, e a fez pedir que eles reparassem algumas das transgressões que ele tinha executado enquanto esteve vivo, munindo-a com símbolos e lembranças reais por meio dos quais eles poderiam ter certeza de que ela tinha sido enviada por ele. Thome Reid alertou Bessie sobre como tratar os doentes, tanto os humanos como o gado, e seus tratamentos eram geralmente bem-sucedidos. Ele também ajudava a descobrir a localização de propriedades roubadas. Em uma ocasião, ela disse, talvez de forma audaz demais, que o motivo pelo qual alguns instrumentos de ferro roubados não terem sido recuperados era porque um certo xerife oficial tinha aceitado um suborno para não os encontrar. Isso não deve ter sido bem recebido pelas autoridades envolvidas [o que essa criatura tinha na cabeça?] , e imaginamos se essa não foi a verdeira razão pela qual era passou a ser tratada de forma dura pela lei, porque afinal ela jamais fora acusada de ter causado mal a ninguém. Todavia, como Sir Walter Scott diz: “As tristes palavras à margem dos registros ‘Condenada e Queimada’ suficientemente expressam a trágica conclusão de um conto tão curioso”.



É impressionante que médiuns espiritualistas da atualidade afirmem ser auxiliados por espíritos que eles chamam de “Guias”; isto é, espíritos que especificamente se prendem a um médium para essa finalidade de ajudar na produção dos fenômenos e de aconselhar o médium. Sem de forma alguma desejar ofender os Espiritualistas, isso é exatamente o que o familiar humano das bruxas fazia e ainda faz. Um dos objetivos dos ritos das bruxas atuais é o de contatar os espíritos daqueles que foram bruxos e bruxas em suas vidas passadas na Terra, e que assim adquiriram sabedoria tanto na Terra como no Além. O procedimento das Bruxas, mesmo não sendo exatamente o mesmo dos espiritualistas, é contudo muito semelhante em muitos respeitos. A prática dos Espiritualistas de sentarem-se em um círculo, e de terem homens e mulheres sentados alternadamente é precisamente a mesma da bruxaria, assim como é sua crença de que o poder é latente no corpo humano, e que sob as condições corretas esse poder pode ser externalizado e usado por entidades descarnadas se manifestarem. As bruxas também acreditam, em comum com os Espiritualistas, que uma pessoa de temperamento certo [na verdade, é só questão de abrir o chakra manipura] pode entrar em um estado de transe, durante o qual um espírito pode fazer uso da mente e do corpo da pessoa para conseguir falar, escrever ou desenvolver ações; em outras palavras, elas acreditam na mediunidade. Essa pode ser uma das razões que explicam a oposição implacável de alguns sacerdotes para com espiritualistas – que eles reconhecem no ato muitas das crenças e fenômenos da bruxaria. O bruxo afirma, no entanto, assim como o espiritualista, que esses poderes e fenômenos são perfeitamente naturais, que eles estão dentro dos padrões das leis naturais, embora o materialista possa não entender o funcionamento de tais leis; essa é a forma pela qual esses poderes são usados tornando-os do bem ou do mal, e não a natureza essencial dos próprios poderes. Com relação ao familiar das bruxas que é uma entidade descarnada não-humana, um espírito da natureza, essa é uma crença não-exclusiva das bruxas. Ela pode ser encontrada também no Oriente, onde muitos faquires e magos afirmam produzir fenômenos maravilhosos por meio de sua aliança com os espíritos dos elementos.


No Ocidente, esses espíritos da natureza eram aceitos por pessoas de todas as raças. Os gregos e or romanos sentiam a presença das ninfas do rio e das montanhas, as ninfas das árvores e os faunos de pés de bode das florestas e, para eles, erguiam altares em lugares em lugares solitários da selva. Um altar desse tipo, com a inscrição DIIS CAMPESTRIBUS, é descrito por Sir Walter Scott como estando preservado na Biblioteca dos Advogados na Escócia. Ele foi descoberto próximo ao Castelo Roxburgh; o velho senhor responsável pela biblioteca costumava traduzir como “As Fadas, ye ken”. Após a chegada do Cristianismo, todos esses espíritos da natureza foram considerados como pertencentes ao mundo das Fadas, do qual Diana, a deusa das florestas e da Lua, era a rainha. Eles eram “A Riqueza em Comum Secreta”, como o velho Robert Kirk de Aberfoyle os descreveu em 1691; a associação com eles foi proibida pela igreja como uma coisa da bruxaria. Até mesmo nos dias de hoje, alguns dos clérigos irlandeses mais severos dizem aos seus grupos de fiéis que os pequenos espíritos são “demônios”. O respeito pelas fadas, entretanto, de forma alguma deixou de existir, principalmente nas partes mais celtas das Ilhas Britânicas. Na Ilha de Man, por exemplo, é comum as pessoas saudarem o Povo Bom quando eles passam pela Ponte das Fadas; esse costume foi seguido até mesmo pela realeza, em uma visita à ilha nos anos recentes. Para muitas pessoas, ele é simplesmente um traço pitoresco do folclore local, mas também são comuns os contos de pessoas que tratavam as fadas com falta de cortesia e que experimentaram coisas inexplicáveis com seus carros que paravam ou outros casos de desgraça desde então.


Entretanto, qualquer amizade íntima entre os mortais e as fadas era considerada, geralmente com razão, como um sinal de bruxaria nos dias passados. Os registros disso são tão extensos e curiosos que eles exigem um capítulo só para eles. A crença no familiar das fadas está ainda suficientemente viva a ponto de ser perpetuada por Hollywood. Aquele filme muito engraçado “Harvey”, estrelando James Stewart, era na verdade sobre um familiar desse tipo, e ele estava muito próximo na tradição pela forma que descrevia “Harvey”, o pooka ou espírito das fadas em formas animais, e seus poderes travessos.


Fonte: A Enciclopédia da Bruxaria – Doreen Valiente

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