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Feitiçaria do clima, as Bruxas que influenciam no clima

Bruxaria Climática


"Portanto, uma tempestade pode marcar a morte de um bruxo ou bruxa — ou um suicida ou pecador —, pois é quando Satã vem buscar o que lhe pertence." 

— "Witchcraft in Old and New England", pág. 159, George Lyman.


"[...] E quando encontrares um campônio que seja rico, deves então ensinar à bruxa, sua pupila, como arruinar suas colheitas com tempestades terríveis, com o relâmpago e o trovão, e com o granizo e o vento..."

— "Aradia, O Evangelho das Bruxas", pág. 33, Charles Leland.



Uma prática que era atribuída às bruxas é o poder de influenciar o clima; chuva, tempestades, granizo e naufrágios causados por tais fenômenos eram algumas de suas capacidades nessa forma de bruxaria. Tal prática é referida em algumas culturas como “ordenhar as nuvens”.


Na página 47, cáp. XIII, livro III do "The Discoverie of Witchcraft", Reginald Scot diz que as bruxas seriam capazes de conjurar o granizo, o raio, o trovão e tempestade ao "[...] lançar uma pedra sílex para trás acima do ombro esquerdo ao oeste; jogar areia da praia contra o elemento (ar ou o oceano?); molhar uma vassoura e respingá-la; jogar água [ou vinho ou urina] num buraco e revolver o líquido com o dedo [ou vassoura. No caso deste se diz que se deve revolver o líquido sem parar até que a chuva venha. Se o dedo cansar outra pessoa deve continuar, tomando cuidado que durante a troca de pessoas a água continue girando]; ferver pelos de porcos; jogar gravetos numa mesa completamente seca; enterrar sálvia até apodrecer [no momento que as folhas apodrecessem a chuva viria]".


Na feitiçaria folclórica temos exemplos de versículos bíblicos sendo usados para causar chuva. Em "Ozark Magic and Folklore", pág. 32, de Vance Randolph ele cita uma maneira para isso: se deve encarar o sol nascente e se curvar três vezes repetindo o versículo 6 do capítulo 72 do livro de Salmos. Outra maneira praticada pelo povo de Ozark é escrever o versículo 8 do capítulo 45 de Isaías, ler em voz alta três vezes acima do papel o mesmo versículo e então mergulhá-lo num pote com água e deixar ao ar livre. 


Uma bruxa conjurando as nuvens para chover.

No folclore escocês, quando as bruxas queriam afundar navios elas colocavam uma concha flutuando na água de um poço. Na borda do poço eram postas pedras negras. A bruxa começava então a proferir seus encantamentos tempestuosos; no momento que a concha afundasse na água por meios sobrenaturais era um sinal de sucesso, pois sua influência foi enviada sobre o alvo. Em "Witchcraft in Old and New England", pág. 161, de George Lyman temos a passagem de uma bruxa afundando o barco em que garotos velejavam ao derrubar um balde com água, proferindo "Aí vai, seus cães!", afogando-os. Ainda no folclore escocês, encontramos em “Witches Stories", pág. 148, de Lynn Linton, uma bruxa afundando um barco através de um antigo cântico nórdico. Na feitiçaria popular também encontramos o uso de salmos e a prática da magia imitativa para afundar pequenas ou grandes embarcações. Historicamente o exemplo mais famoso dessa capacidade das bruxas é encontrado na inquisição escocesa. As bruxas de North Berwick no século XVI supostamente teriam tentado naufragar o navio do Rei Jaime VI com terríveis tempestades ao lançar um gato no oceano a mando do Diabo. Para fins benéficos as bruxas eram consultadas quando se pedia que elas dispersassem a neblina que se formava sobre o oceano, para ajudar navios que podiam se perder. Hoje, em ritos maléficos, a neblina pode ser conjurada sobre o oceano para atrapalhar navegações ou em estradas para causar acidentes. 


Além de chuva e tempestade elas teriam a capacidade de aumentar ou diminuir o vento. A bruxa escocesa do século XVII Isobel Gowdie confessou em seu julgamento como as bruxas de seu coven aumentavam ou diminuíam a velocidade do vento: se queriam aumentar, pegavam um pedaço de pano molhado e o batiam contra uma pedra três vezes, proferindo um encantamento:


"Eu bato este trapo contra esta pedra,

Para elevar o vento em nome do Diabo.

Ele não deve diminuir até por isso eu haver desejado."

Se queriam diminuí-lo, secavam o pano e proferiam um encanto diferente:

"Nós arriamos o vento em nome do Diabo,

Ele não deve se elevar até nós o elevarmos!".


Ainda sobre o vento, era comum que em portos na Cornualha e outras partes da Europa os marinheiros comprassem "cordas do vento" de bruxas locais. A corda possuía três nós, ao se desatar cada um seria conjurado um tipo diferente de vento; o primeiro, uma brisa; o segundo, um vento forte; o terceiro, um vendaval, tempestade ou tornado. Em alto-mar quando os marinheiros alemães queriam alterar a direção do vento eles queimavam uma vassoura velha com o cabo na direção de onde o vento deveria soprar. No capítulo V de “The Golden Bough”, Frazer conta como alguns feiticeiros russos conjuravam uma rápida brisa durante um dia ensolarado ao amarrar em fios de crina de cavalo uma pedra encontrada no cadáver de um peixe ou outro animal; a outra ponta do fio era então amarrada num graveto e o objeto girado e um encantamento proferido, logo uma fresca brisa sopraria.


Na França se falava sobre peculiares pessoas chamadas de “tempestarii” que possuíam tanto o poder natural de conjurar tempestades assim como afastá-las. Os tempestarii eram auxiliados em suas influências climáticas por marujos que velejavam em navios pelo céu. Vistos como demônios, eles navegavam pelas marés aéreas vindo de sua terra natal: Magonia, uma cidade ora vista como uma cidade flutuante no céu ou uma cidade na terra. Os marujos de Magonia se juntavam aos tempestarii, onde esses últimos criariam tempestades em locais específicos, geralmente plantações ou celeiros, para que os marujos celestes pudessem roubar o que bem quisessem sem serem vistos, escondidos pelas nuvens tumultuosas, dividindo então o lucro do roubo com seus comparsas. Os campônios franceses consultavam os tempestarii quando queriam afastar uma tempestade que dava sinais de estar se aproximando, pagando uma quantia pelo trabalho. É interessante saber que em algumas partes da França se acreditava que famílias inteiras teriam a capacidade de influenciar o clima, como um poder hereditário. 



A “Arte dos Tempestarii" é praticada hoje na vertente da bruxaria tradicional moderna, seja, parafraseando Gemma Gary, "[...] para usos benevolentes, como conjurar chuvas em terra seca, abençoando eventos com um glorioso dia ensolarado e providenciando ventos favoráveis a marinheiros" ou "para conjurações maléficas de chuva, vento e tempestade para perturbação, punição ou calamidade". Historicamente a influência do clima era realizada por feiticeiros agricultores, tendo o foco de beneficiar sua própria colheita. As conjurações diabólicas de tempestade, ventania e granizo eram realizadas por bruxas como forma de ataque deliberado.


Fonte:

A Velha Feitiçaria na Nova Inglaterra de George Lyman

Aradia, o Evangelho das Bruxas de Charles Leland

A Descoberta da Bruxaria de Reginald Scot


Texto de Michael Soares

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