Dentro do imaginário popular, seja nos contos de fadas, na arte lúdica, ou na superstição, sapos, magia e bruxas estão bastante ligados. É fácil reconhecer isto nas famosas lendas de príncipes que se tornam sapos por meio dos encantamentos de uma bruxa, ou nas imagens e retratações feitas por artistas durante a Idade Média, onde a figura da bruxa muitas vezes era encontrada junto de sapos. Como é sabido dentro dos meios Tradicionais da Arte, as lendas, contos populares e superstições guardam resquícios de costumes mágicos antigos, e este ensaio tem a intenção de explanar sobre as associações mágicas existentes no sapo, e sua importância para a chamada Bruxaria Tradicional.
O sapo é um anfíbio que vive em ambientes úmidos, principalmente pela necessidade de seus ovos e girinos. Existem cerca de 4.800 espécies de sapos, e estes se distinguem das rãs pelas membranas interdigitais menos desenvolvidas e pela pele mais seca e rugosa. Quase todos os sapos da família Bufonidae tem duas glândulas na parte de trás da cabeça. Em estado de irritação ou medo, estes sapos liberam substâncias venenosas destas glândulas. Estas substâncias, chamadas de bufotoxinas são psicoativas, em maior ou menor escala, dependendo da espécie do sapo, por isso, eles são chamados de “Sapos Psicoativos”. O Sapo do Rio Colorado (Bufo alvarius) contém as bufotoxinas 5-MeO-DMT e bufotenina, enquanto as outras espécies contém apenas a bufotenina. Ambas são substâncias classificadas como “Triptaminas Alucinógenas”, que podem causar efeitos alucinógenos quando a pele ou veneno do sapo são fumados ou assimilados pela língua. Ao contrário da crença popular, o veneno dos sapos não causa verrugas. Em algumas tradições Xamânicas das Américas, eram usadas combinações destes venenos para se alcançar comunhão com o Mundo Espiritual e para a transcendência do Xamã. Na Europa, as bruxas também se utilizavam de bufotenina, assim como de ervas e fungos alucinógenos, para entrarem em comunhão com o Senhor Chifrudo e seguirem para o Verdadeiro Sabbat, que é o Local de Poder no Outro Mundo, onde ocorre o Congresso com o Espírito, ao invés da concepção moderna de Rito Sazonal.
“No século XVI, os círculos bruxos do noroeste da Espanha utilizavam o sangue do sapo para confeccionar seus ungüentos de vôo. Em 1525 Maria de Ituren confessou ter digerido um ungüento de vôo a partir de pele de sapo e tanchagem, sem dúvida misturados em uma base oleosa. As bruxas suecas fabricavam os seus ungüentos com gordura de sapo, saliva de serpente e plantas venenosas. Os covens alemães têm a reputação de fritar os sapos para preparar tais ungüentos. Os ungüentos a base de gordura de sapos eram também utilizados pelas bruxas húngaras e do Leste da Europa para chegar ao êxtases do “vôo pelo espírito”.” [1] O Sapo tem há muito tempo uma conexão com o Mistério, os Segredos e os Poderes Noturnos. São animais reservados, que aparecem somente durante a noite, e sempre ligados a ambientes aquáticos e úmidos; o sapo habita tanto na terra como na água, passando de um ambiente para o outro confortavelmente, o que o torna um ser associado ao “trânsito entre os mundos” , e ligando-o como mensageiro entre a terra e o submundo. É interessante notar como até mesmo esta idéia, do sapo como guardião dos mundos, está presente em lendas e contos antigos e modernos; um exemplo disto é o recente filme O Labirinto do Fauno de Guillermo del Toro, onde um grande sapo que habita em uma árvore é o guardião da chave para o Reino Subterrâneo, e a personagem Ofélia só consegue adquirir tal chave após destruir o sapo, uma clara referência à Ordália. Também por habitar em regiões pantanosas, o sapo é especialmente sagrado para as deidades ctônicas, mais uma associando-o ao mundo inferior.
Os artistas da Idade Média retratavam os sapos em ligação com o Diabo, e por sua vez como Animais Familiares das Bruxas. É interessante notar que, dentro de muitas das irmandades e sectos de Bruxaria Tradicional, tanto os sapos, como as serpentes e dragões são os seres diretamente ligados ao Diabo, uma das muitas máscaras do Senhor Chifrudo das Bruxas, e ele por muitas vezes aparecia no Sabbat se utilizando da forma de um desses seres. As bruxas também tomavam a forma de animais para irem ao Sabbat, e uma das formas mais comuns era a do sapo. Assim como os Xamãs americanos, elas se transfiguravam nos animais para seus ritos, e novamente aqui vemos o autentico uso dos enteógenos[2] para tal ato sagrado. Como descrito pelo Ocultista Nigel A. Jackson, o símbolo do Diabo pela tradição heráldica medieval, consistia em três sapos sobre o brasão, o que afirmava a ligação com os poderes do mundo abaixo. As bruxas bascas eram marcadas com o sinal conhecido como “Pé de Sapo” , pelo Diabo. Encontramos em Gypsy Sorcery and Fortune Telling de Charles G. Leland, a referência de uma Associação de Feiticeiros da Espanha, em 1610, onde a pessoa que era admitida nesta Ordem recebia uma marca em forma de sapo sobre sua pálpebra e que um sapo de verdade lhe era dado como Familiar, conferindo-lhe poderes como o da invisibilidade, mudança para a forma de animais variados e o poder de se transportar para lugares distantes. Até o fim do século XIX, no Oeste da Inglaterra, havia uma tradição de Magia Popular Medicinal, das quais seus praticantes, conhecidos como Toad Doctors (Médicos-Sapos) acreditavam na cura de diversas doenças, inclusive e mais propriamente aquelas causadas por feitiçaria, por meio do uso de um fetiche feito com a perna de um sapo vivo dentro de um saquinho de musselina e o pendurando em torno do pescoço da pessoa doente.
No Leste da Inglaterra, principalmente no condado de Essex, há uma tradição mágica de bruxos solitários conhecidos como Toad-Witches (Bruxos-Sapos). O folclore, mantido até os dias de hoje, reza que há um rito solitário que visa a obtenção de poderes mágicos, mais propriamente o poder de dominar as bestas e animais e destes especialmente o Cavalo, que é conferido por meio de um amuleto feito do osso de um sapo. É dito que este amuleto, o Toad-Bone Charm (Fetiche-de-Osso-de-Sapo), pode servir como uma chave em todos os assuntos concernentes da Arte Sábia. O rito de obtenção deste amuleto é considerado dentro da Bruxaria Tradicional, como uma Iniciação Solitária e Vertical. Ao contrário da tão afamada “auto-iniciação” onde a pessoa faz um ritual e se considera um Iniciado, a Iniciação Solitária depende de diversos sinais e provações para ser concluída, e se tais sinais não forem dados, o ritual não é concluído e não há Iniciação. Dentro dos costumes dos Toad-Witches, aquele que busca a Iniciação deve procurar um tipo específico de sapo, sacrifica-lo com um espinho de blackthorn (Prunus spinosa) , e deixar sua carne ser comida pelas formigas para se obter apenas os ossos. Estes ossos são então ser recolhidos e jogados em uma corrente de água, e apenas um osso deve voltar para as mãos do praticante, em meio a vários fenômenos naturais que tem por objetivo amedrontar e tirar a atenção do mesmo. Se o osso do sapo não voltar o rito não foi bem sucedido, caso o osso retorne para suas mãos, então ele pode prosseguir nas outras etapas do rito, as quais culminarão no encontro com o Diabo e a Iniciação em si. O próprio sacrifício do sapo em si já é a primeira das provações para saber se o rito poderá ou não ser feito pelo praticante. É dito que somente se pode prosseguir neste Mistério se o modo do sacrifício for revelado por sinais e presságios; é dito ainda que, caso nenhum presságio for recebido, sabe-se que o rito não deve ser feito, e prosseguir é ser amaldiçoado [3].
As referências mais antigas do uso dos Toad-Bone Charms aparecem na História Natural de Plínio, em aproximadamente 77 d.C. Os poderes atribuídos por Plínio ao Osso de Sapo, entre os quais o de domar animais, seduzir, favorecer o amor e causar a discórdia, são os mesmos do rito inglês. Vemos aqui claramente um indício da antiguidade de tal Mistério. Plínio também descreveu como proteger magicamente as colheitas das tempestades, colocando um sapo em um pote e enterrando-o nos campos. As referências de Plínio são repetidas por Agrippa em seu Filosofia Oculta, escrito aproximadamente em 1509 e publicado na Alemanha em 1531. Scot, em Discoverie of Witchcraft, 1584, também cita o uso do osso de sapo como um amuleto de bruxaria, onde novamente a carne do sapo é devorada por formigas e o osso usados para se produzir prodígios mágicos, para o bem e para o mal. Segundo a magia medieval, para tornar-se amado, deve-se colocar um sapo morto num recipiente de barro, cheio de furos, e colocar este recipiente no topo de um formigueiro. Depois que as formigas consumirem toda a carne, deve-se moer o osso até virar pó e mistura-lo com sangue de morcego, e então jogar este pó na comida e bebida da pessoa de quem se deseja o amor. O pó dos ossos de sapos também era utilizado na magia medieval para a abertura de portas e cadeados trancados.
De acordo com Andrew D. Chumbley, o falecido Magister da Cultus Sabbati, o sapo mais indicado para o Mistério dos Toad-Witches na Inglaterra seria o Natterjack Toad (Bufo calamita). Este é um sapo difícil de ser encontrado e que vive no meio da areia.
No Brasil, temos uma espécie de sapo muito interessante, e que é especialmente sagrado dentro das manifestações mágicas da Irmandade de Bruxaria Tradicional Via Vera Cruz. Este sapo é conhecido pelo nome científico Bufo crucifer. Como um sapo da família Bufonidae ele contém a Bufotenina e é encontrado em florestas densas, rios, pântanos de água doce, jardins rurais e florestas antigas. Infelizmente é um sapo que está ameaçado pela perda de habitat natural. Ele é especialmente sagrado por carregar em suas costas uma mancha na forma semelhante de uma cruz – daí seu nome crucifer, “o que carrega a cruz”. Neste contexto, ele serve como um elo entre céu e inferno. Além do extenso uso do osso de sapo na Bruxaria, há também uma pedra especial, chamada de Pedra-de-Sapo ou crepaudina, encontrada na cabeça dos sapos, dotada de poderes ditos mágicos. Nigel Jackson cita que tal pedra cura todas as picadas e mordidas de animais e que, colocada sobre um anel, a pedra empalidece quando na presença de venenos. Em “As You Like It”, Shakespeare faz uma referência à crepaudina: “O sapo hediondo e venenoso tem em sua cabeça uma pedra preciosa”. É dito também que tal pedra protege aquele que a usa como amuleto de qualquer tipo de malefício e feitiçaria. Entre os ciganos Rom, o Diabo normalmente aparece sob a forma de um sapo ou rã, e seu nome é “Beng”, que em Romani significa “como uma Rã”. Para os ciganos da Romênia, a Rainha das Fadas vive sob a aparência de um Sapo de Ouro. O Sapo é também associado às deidades obscuras bruxas Hécate e Lilith, ambas as deidades relacionadas com a Rainha de Elphame dentro do contexto da Arte Sábia. Outra ligação do sapo com o Reino das Fadas, e por sua vez com a Rainha de Elphame e com o Diabo, encontra-se na antiga palavra italiana “fata”, que significava tanto sapo quanto fada. Para a Bruxaria Italiana encontrada na Florença, como exposta por Charles G. Leland, Diana é a “Rainha das Fadas” e um de seus animais sagrados é o sapo. O sapo também é ligado ao conceito de fertilidade. Para os antigos egípcios, ele era o animal sacro de Hekat, a deusa da fertilidade e encontramos nas práticas do coven de Auldearne, em 1662, uma prática mágica curiosa para atrair a fertilidade para os campos, onde um sapo puxava um arado pela terra enquanto os bruxos clamavam ao Diabo pela fertilidade da Terra. O Sapo é o Animal Familiar da Bruxa, que lhe dá a chave para o Submundo e lhe confere o Congresso com o Diabo, Mestre Chifrudo do Sabbat. Ele é o Guardião dos Mundos, é o bruxo e é também o próprio Diabo. A ligação entre os sapos e as bruxas são muito mais reais e próximas do que apenas o imaginário popular
Forte relação com a magia, entre eles a arte de feitiços onde temos aqui no Brasil crenças sobre "botar seu nome dentro da boca do sapo", faz parte entre as bruxas aqui onde feitiços como botar nome completo, cabelo e unhas da vitima dentro da boca do sapo e costurar com linha preta é formas de feitiçaria presente no imaginário popular, mas também no livro de Cipriano ele ensina feitiços com sapos para fins de amor e maldições pros inimigos.
Na medicina bruxa, sapo possui também suas aplicações onde doenças causadas por ato de feitiçaria podem ser curado por levar um saquinho com ossos de sapo no pescoço, o sapo foi muito usado dentro da medicina campestre na Europa, o seu uso para anular doenças.
O sapo passa por uma grande transformação na sua vida, por isso é associado com a transformação, renascimento, vida e morte;
Sobre a rã, algumas crenças sobre que Bruxas utiliza partes dela como afrodisiaco para ajudar na impotência e fidelidade.
O folcore da pedra-sapo, que ronda é que na cabeça do sapo nasce uma pedra que possui poderes mágicos uma delas é livrar do possuidor de doenças contagiosas, por isso o sapo é usado na medicina campestre Europeia desde da época medieval.
O sapo é ligado a Hecáte a Deusa Rainha das Bruxas por isso ele carrega alguns atributos como fertilidade, proteção, e acesso ao Submundo; A Igreja inventou uma crença que os Sapos seriam a comida dada pelo Diabo as Almas que lá vive no inferno por isso que o sapo é tão temido hoje em dia rsrsrsrs
O sapo é usado como amuleto, um sapo seco carregado no pescoço afasta a epilepsia
carregando um sapo seco no bolso esquerdo, atrai a astucia
Fonte: http://oldwitchcraft.blogspot.com.br
Fonte:http://cruxsabbati.com/2008/07/sapos-e-bruxas-o-sapo-como-agente-mgico.html
Bençãos do Deus Chifrudo, aquele que possui sapo como seu simbolo.
Cain Mireen
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